O Princípio da Uma Só China: Garantia de cooperação e paz entre a China e a UE

 

Princípio da Uma Só China

Artigo Publicado na CGTN/CRI

As autoridades de Taiwan, do líder  Lai Ching-te, eleito pelo Partido Progressista Democrático (PPD) com apenas 40% dos votos, beneficiando da divisão da oposição em duas candidaturas, tornaram-se cada vez mais minoritárias no chamado “Yuan Legislativo” da região. As suas tentativas de reverter essa situação por meio de referendos revogatórios terminaram em fracasso retumbante, por isso a estratégia para se manter no poder tem sido de procurar no exterior os apoios dos governos dos EUA, do Japão, da França, da Alemanha e do Reino Unido.


É neste contexto que se deve entender a recente visita a Bruxelas, da representante de Taiwan, Bi-Khim Hsiao, à margem das instituições da União Europeia e da denominada conferência da Aliança Interparlamentar sobre a China (IPAC), que reúne deputados de predominância liberal e conservadora e define como  missão “Desenvolver uma resposta coerente à ascensão da República Popular da China, liderada pelo Partido Comunista Chinês”. Embora não mencione a origem do seu financiamento, das seis entidades identificadas pelo seu site, três têm sede em Taiwan e uma quarta é o Instituto Republicano Internacional (IRI), criado, segundo a sua proclamação pública,  “para ser um instrumento fundamental da política do presidente Ronald Reagan de garantir a paz através da força”.

As lições da crise da Nexperia (Chips)

A empresa sedeada em Nimegen, nos Países Baixos, é subsidiária da Wingtech Technology, cotada em Xangai e detida parcialmente pelo Estado chinês. No final de setembro e em outubro de 2025, o governo avançou contra a Nexperia, invocando questões de segurança e ameaças vagas à procura europeia de chips, recorrendo à raramente invocada “Goods Availability Act”. Um tribunal suspendeu o presidente-executivo da Nexperia. Em resposta, a China congelou as exportações de chips e os construtores automóveis temeram paragens nas fábricas, porque muitos destes chips de gerações anteriores não têm alternativas imediatas.

Ma os sinais mais recentes de distensão entre Pequim e Haia, quanto aos controlos aos semicondutores, superaram a crise. Ao repor parte das exportações, Pequim eliminou rapidamente o risco de perturbações de produção na Europa, e os construtores automóveis  receberam os primeiros chips da Nexperia, confirmou o responsável da Volkswagen na China ao jornal alemão Handelsblatt. Ao mesmo tempo, a China suspendeu a proibição de enviar determinados materiais críticos para os Estados Unidos, usados em chips, eletrónica e outros componentes de alta tecnologia. A China também suspendeu as taxas portuárias especiais que impusera a navios ligados aos EUA, no âmbito de trégua acordada. Ambas as medidas reduzem custos no curto prazo e aliviam a incerteza para as cadeias de abastecimento e o transporte marítimo. A empresa mãe viu antão subir as suas ações entre  3,02%, e 9,7%.

Na promoção do desenvolvimento global sustentável e pacífico, em que domínios podem a China e a UE cooperar?

Se a Europa ceder às pressões do governo dos EUA, como o fez o parlamento europeu ao bloquear a aplicação do Acordo Global de Investimento (CAI), sob falsos pretextos associados a Xinjiang, e incentivar  o separatismo em Taiwan, afetará irremediavelmente o futuro das relações entre a UE e a China. Recordemos a história recente: Em dezembro de 2020, Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que o CAI permitirá “um acesso sem precedentes ao mercado chinês”. Em de Março 2023, o CAI é bloqueado pelo Parlamento Europeu, invocando violações dos Direitos Humanos em Xinjiang. Então, Ursula Von der Leyen classificou a PRCh como um regime de capitalismo de Estado e um rival sistémico (Mercator). Em setembro de 2023, perante o avolumar dos sinais de estagnação e recessão das principais economias europeias,  Ursula Von der Leyen admitiu: “Temos de reconhecer que há um elemento explícito de rivalidade na nossa relação. Mas esta rivalidade não tem de ser hostil. Pode ser construtivo”. (Mercator)

E assim sendo, cito o próprio discurso da presidente da União Europeia, sobre a  erradicação da pobreza e a diplomacia da paz da China, que constituem a essência da Declaração Universal dos Direitos do Homem e da Agenda 2030 das Nações Unidas para a transição ecológica e o desenvolvimento sustentável. “Em menos de 50 anos, a China saiu da pobreza generalizada e do isolamento econômico para se tornar a segunda maior economia do mundo e líder em muitas tecnologias de ponta. Desde 1978, o crescimento médio foi de mais de 9% ao ano e mais de 800 milhões de pessoas saíram da pobreza. Esta é uma das maiores realizações do último meio século”… E continua a Srª Von Leyen: “Existem algumas ilhas de oportunidade nas quais podemos construir. Vejam as mudanças climáticas e a proteção da natureza. Congratulo-me com o papel de liderança que a China desempenhou na garantia do histórico acordo Kunming-Montreal sobre Biodiversidade Global. E algumas semanas atrás, a China também foi um participante ativo no acordo global para proteger a biodiversidade em águas internacionais. Num momento de conflito e tensão global, essas são conquistas diplomáticas notáveis – nas quais a China e a União Europeia trabalharam juntas.” _ Afirmou.

“…ilhas de oportunidade”, segundo Von Leyden

Para concluir: “Existem algumas ilhas de oportunidade nas quais podemos construir… a diplomacia ainda pode funcionar – seja na preparação para uma pandemia, na não proliferação nuclear ou na estabilidade financeira global… A China é um parceiro comercial vital. Enquanto os desequilíbrios estão crescendo, a maior parte do nosso comércio de bens e serviços permanece mutuamente benéfico e ‘sem riscos’!…Isso mostra o que pode ser feito quando os interesses se alinham. E mostra que a diplomacia ainda pode funcionar – seja na preparação para uma pandemia, na não proliferação nuclear ou na estabilidade financeira global”.

Refere ainda a Net-Zero Industry Act como uma parte fundamental do Plano Industrial Green Deal. O seu objetivo não pode ser atingido sem a parceria da China, o único país que pode fornecer ( à Europa e aos EUA) em quantidade e segurança os materiais críticos, como gálio, germânio e antimónio, para  produzir pelo menos 40% da tecnologia limpa de que a UE precisa para a transição verde – como energia solar, eólica e offshore, energia renovável no sentido mais amplo, baterias e armazenamento, bombas de calor e tecnologias de rede.

Os chineses de Taiwan defendem a cooperação e o diálogo com a RPCh

O investimento europeu em Taiwan atingiu US$ 73,4 bilhões, superando o total combinado dos Estados Unidos e do Japão. Os lideres e cidadãos europeus necessitam conhecer a realidade política e escutar os apelos dos chineses de Taiwan. Na recente eleição presidencial do principal partido da oposição, o Kuomintang, realizada em 18 de outubro, Cheng Li-wun foi eleita com 50,1% dos votos. Ela baseou a sua candidatura  no “Consenso de 1992”, ou seja, no entendimento entre o Kuomintang e o governo de Pequim de  que existe “uma só China” e que a adesão a este princípio  traria um “século de paz” à nação chinesa. Em questões de segurança,  opõe-se à visão do DPP sobre Taiwan militarizado e proclama que a “reconciliação” com a China é a melhor defesa.

Lisboa, 13.11.2025

António dos Santos Queirós. Professor e Investigador. Universidade de Lisboa